Friday, September 22, 2006

Portugal, Finlândia do futuro?

Jack Soifer
Portugal, Finlândia do futuro?
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Há 15 anos a Finlândia estava pior que Portugal. Como nós, num extremo da Europa e muito dependente de dois mercados, seu grande vizinho russo e o pequeno sueco.
Como nós, exportava riquezas naturais, pescado, cobre e celulose, e produtos de limitada tecnologia, calçados, têxteis, cristais e reparação naval. Como nós, grande parte da agricultura era de subsistência, dispersa e sem boas estradas. Haviam poucas grandes empreiteiras que faziam grandes obras no exterior; muita intransparência e até corrupção. O Marco era sustentado também pela remessa de emigrantes para suas famílias.

Como foi o milagre finlandês? Como no resto da Europa, total descentralização do Ensino Básico para Concelhos. Formação profissional prática, energias alternativas, empreendedorismo, controlo de cartéis, automação na administração pública, fisco proactivo. É a receita de Jack Welch em recente seminário no Fórum de Competitividade. Ele disse ‘do estado é necessário apoio para (...) reforço da educação técnica em proximidade com as empresas, garantia de qualidade em todos os níveis de ensino, pedagogia da responsabilidade’. Sobre inovação quer valorizar ‘o profissionalismo, desenvolvimento tecnológico para resultados concretos, e verdadeiro venture-capital que permita experimentar e concretizar novas ideias e projectos’.

Como José Ferraz, do BPI, Agostinho Bucha, do Politécnico de Setúbal, o prof. Domingos Sousa e muitos outros dizem, práticas de empreendedorismo, física, química, precisam muito maior foco no ensino secundário. ‘As instalações das escolas devem ser aproveitadas para formação profissional e reciclagem para as empresas locais, aproximando a escola da comunidade e aproveitando os recursos gerados para reapetrechar escolas e laboratórios’, diz Sousa. É a razão do êxito da Finlândia, aliada à força do empresariado local no comando de todo o ensino do país. Lá não perguntam ‘quem apresentou o Jack’, mas ‘em que ele pode contribuir a curto e longo prazos’. Lá não se lucra ao falar rebuscado, mas ao fazer e inovar. Linux, Nokia, Enso são produtos simples, baratos, confiáveis; sistemas focados na real necessidade do cliente, sem anúncio na TV.

Temos mais recursos naturais que a Finlândia: mar bem mais rico, florestas que podem crescer mais rápido, óptimo solo, sol para energia e turista, vinhos extraordinários. Temos o povo mais simpático da UE. Falta-nos dar a ele o que precisa para passar a Finlândia: reais oportunidades de trabalho, prático e bom ensino profissional, respeito ao humilde mas competente, controlo e justiça atempada para coibir abusos dos ‘amigos dos reis’. Podemos estar na cabeça da UE em 2020. É implantar uma real democracia educacional e económica. Regionalizar as estatais, ficar perto do cliente. Introduzir ‘conselhos de utentes’ em todos Institutos e DGs. Dar poder a DECO e a QUERCUS de fechar lojas e embargar obras enquanto a lenta justiça julga. Democracia não é só poder votar. É igualdade de oportunidades e, sobretudo, dar voz e poder ao consumidor. Pôr no Conselho das escolas pais e empresários, os que precisam de mão-de-obra e bons cidadãos. Usar melhor os recursos, integrar, para que 2 e 2 não seja só 4, mas um 8, deitado, um infinito de bons resultados para este maravilhoso povo Português. JÁ!

In Jornal de Negócios (22/09/2006)

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